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quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Sobre Envelhecer por - Joan M. Erickson



 "Envelhecer é um grande privilégio. Permite o feedback sobre uma longa vida que pode ser revivida em retrospecto. Com o passar dos anos o retrospecto torna-se mais inclusivo; cenas e ações tornam-se mais reais e presentes. Às vezes, as cenas e experiências distantes são espantosamente próximas e revivê-las na memória é quase esmagador. Com a mente e o coração voltados para um retrospecto, é natural que no nono estágio (diga-se Ciclo de Vida Completo- nono estágio é a velhice avançada) nos encontremos no curso ascendente de uma subida íngrime. O caminho para esta subida íngrime, até o ponto vantajoso em que podemos saudar o sol que se ergue e se põe, é estreito e cheio de pedras e detritos, mas cada passo nos recompensa e nos leva um pouco mais para cima. A cada passo a vista descortina seu espetáculo libertador, e o céu e as nuvens realizam suas manobras lentas e graciosas.
Mas apesar de toda esta bela conversa, ainda podemos ter nossas obrigações com o corpo que possibilita esta subida da montanha, sejam quais forem suas exigências. De modo que a carga sobre nossos ombros também precisa ser considerada e, antes disso, o cuidado consistente necessário para manter o mecanismo corporal funcionando apropriadamente apesar da idade e da deterioração do modelo original. Eu realmente acredito que no nono estágio é fundamental esclarecermos a nossa carga de possessões, especialmente aquelas que exigem supervisão e cuidado. Se esperamos subir a montanha, quer a meditação nos acene quer não, a viagem deve ser sem carga. Uma vida de treinamento é necessária para termos sucesso. É tão fácil culpar o terreno, a luz, o vento, pelos fracassos e recuos. Momentos de descanso são obrigatórios, mas não há tempo para a autopiedade e o enfraquecimento dos propósitos. A luz também é necessária, pois o caminho e os dias são curtos demais. A música é alegre à meia luz. A escuridão proporciona libertação e nos faz sonhar com aqueles que nos são próximos, queridos e muito amados.
E assim estabelecemos nosso curso com rosto erguido para o sol nascente, com olhos atentos para não escorregar em pedras soltas, nossa respiração relutante em acompanhar o ritmo. Somos forçados a ir mais devagar e reconfirmar a nossa decisão de prosseguir. Sempre os impulsos sintônicos e distônicos, de prosseguir ou desistir, lutam pelo controle e pela vontade de ter êxito. Somos desafiados e testados. Esta tensão, quando é focada e controlada, é a própria origem do sucesso. Cada passo é um teste de soberania sintônica e força de vontade."


Joan M. Erikson (1902-1997) foi uma artista, uma escritora, uma mãe, e a esposa e colaboradora de Erik H. Erikson (1902-1994), um dos psicanalistas mais importantes e influentes no mundo.

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